Sertânia, filme baiano, de Geraldo Sarno é dos três candidatos favoritos a representar o Brasil no Oscar. Ao lado de Picarrete (cearense, tendo como autor Allan Deberton), o carioca Três Verões de Sandra Kogut).
Filme rodado na Bahia. Quando o bando de Jesuíno invade a cidade de Sertânia, Antão é ferido, preso e morto. O filme projeta a mente febril e delirante de Antão, que rememora os acontecimentos
Dentre os figurantes, na trama, as atrizes Sara Galvão (santantoniense, filha de Célia Galvão), Kécia do Prado e Isa Mei. Sara labora como apresentadora na TVE, na capital do Estado da Bahia.
Da esquerda para a direta, Geraldo Sarno (diretor), Sara Galvão (atriz), José Frazão (1° Assistente), Ana Dominoni (Diretora de Arte) e Miguel Vassy (Diretor de Fotografia)
“Quais são os trunfos dos três filmes que mais se destacaram, até o momento? São muitos. “Pacarrete” se apresenta como o título com maior torcida e já causou furor em dezenas de festivais brasileiros e alguns internacionais. A seu favor conta com história universal (uma bailarina idosa e tida como louca, que sonha em montar “O Lago dos Cisnes” na festa de aniversário de sua cidade), uma atriz em estado de graça (Marcélia Cartaxo), sedutora proposta de diálogo aberto com o musical norte-americano (e com citações a “Crepúsculo dos Deuses” somada a humor almodovariano) e, o que constitui seu maior trunfo – uma trilha sonora descoladíssima. Mais internacional, impossível.
Confiram os hits da trama debertoniana: Tina Turner (“We Don’t Need Another Heroi”), Charles Trenet (“Douce France”), Román Perez-Freire (“Ay, Ay, Ay”, com Orquestra de Paul Muriat), John Gummoe (“Ritmo da Chuva”, em francês, com Sylvie Vartan), composições clássicas de Tchaikovsky e Saint-Saëns. E o cearense Belchior (“Coração Selvagem”).
O maior rival de “Pacarrete” é “Três Verões”. O filme também tem uma história universal. Uma empregada de família rica (e corrupta) vê-se envolvida pelas falcatruas dos patrões e tem que se virar, em mansão situada num paraíso do Brasil atlântico, com problemas de várias ordens. Incluindo os cuidados com um senhor bem idoso e de saúde frágil (no caso, o pai do responsável pelas falcatruas). A protagonista é a carismática Regina Casé, em mais um desempenho notável (da mesma grandeza da doméstica de “Que Horas Ela Volta?”). A favor do filme há o fato de ser dirigido e protagonizado por uma mulher. Em tempos de MeToo, um trunfo. Mas “Pacarrete”, convenhamos, é mais sintético e bem-resolvido (em ritmo e envolvimento) que “Três Verões”.
“Sertânia” é um sopro de juventude na trajetória de um veterano, o cineasta Geraldo Sarno (81 anos). O filme, um “nordestern” onírico, sem deixar de ser político e social, vem conquistando corações e mentes. Iniciou sua trajetória na Mostra de Tiradentes e vem causando frisson em festivais dedicados à pesquisa de linguagem. Já arregimentou time de defensores dos mais ativos e militantes. No meio da cinefilia brasileira, desconhecer “Sertânia” é estar totalmente out.
Sarno começa seu filme com um cangaceiro, Gavião, seu protagonista (Vertin Moura), arrastando-se pelo sertão pedregoso. Ele foi baleado e está em seus estertores. Em clima onírico (muitas vezes chegando ao pesadelo), Gavião vai rememorar a história de seus pais, o drama do Conselheiro e sua Canudos, sua infância e juventude, a experiência como operário em São Paulo, o regresso ao sertão e a entrega ao banditismo cangaceiro. A fotografia, do cubano-brasileiro Miguel Vassy, é de beleza arrebatadora. Os enquadramentos renovam e estimulam nosso olhar.
“Sertânia” é um acerto de contas de Sarno com sua trajetória de documentarista (o seminal “Viramundo”) e diretor de filmes de ficção como “Coronel Delmiro Gouveia”, primeiro vencedor do Festival do Novo Cinema Latino-Americano de Havana. Pela trama onírica evocada pelo agonizante Gavião passam fragmentos do documentário social e político brasileiro, até nos conduzir a encontro do jovem cangaceiro com o empresário Delmiro Gouveia em território de mortos (lembremos que Sarno meteu-se com almas de outro mundo em “O Último Romance de Balzac”).
A favor do filme estão sua beleza plástica, seu imenso amor pelo cinema (mesmo que inserções metalinguísticas não se mostrem muito orgânicas) e a força de atração do cangaço. Pesa contra ele uma narrativa por demais fragmentada e inquieta. Hollywood, todos sabemos, ama o cinema narrativo, com personagens bem desenhadas e, se possível, complexas.
O cineasta baiano-paranaense Aly Muritiba faz questão de destacar a força de um quarto candidato: “Alice Júnior”. Para, em seguida, enumerar o que considera os trunfos do filme de Gil Baroni: “ele esteve em um dos três festivais mais importantes do mundo, o de Berlim, e foi aplaudido de pé. Foi exibido em uma dezena de festivais nos EUA e conquistou prêmios em alguns deles”. No Brasil – prossegue – “Alice Júnior foi exibido nos festivais de Brasília e do Rio, nos quais recebeu prêmios. É um filme jovem e pop, protagonizado por uma atriz adolescente e trans”. Para arrematar: “chegou a hora do #TravestiNoOscar”.
Os argumentos do diretor de “Para minha Amada Morta” e “Ferrugem” têm sua força aliciadora. Mas, há que se ponderar, “Alice Júnior” é um comédia juvenil cativante, mas às vezes rasa, com excesso de efeitos pop e televisivos. A sorte está lançada.” Por Maria do Rosário Caetano. Fonte: Revista de cinema.”
Tem tudo para emplacar, trazendo para o Brasil, a Bahia e (por que não), Santo Antonio de Jesus, essa estatueta que, sem sombra de dúvidas, muito representará à arte e a cultura.
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