terça-feira, maio 21, 2024
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Número de contas bancárias abertas por jovens cresceu 50% em 10 anos

Juntar dinheiro, gerenciar os gastos e até fazer planos com os recursos pode ser sim coisa de criança. O último levantamento realizado pelo Banco Central mostrou que somente entre os jovens de 15 a 24 anos foram 23 milhões de contas bancárias abertas nos últimos dez anos, o que representa um crescimento de 50% quando comparado ao período anterior.

Os especialistas, no entanto, são categóricos: a educação financeira e o contato com este mundo deve começar mais cedo e não só nas escolas, mas também dentro de casa.

Para a educadora financeira Glaucia Sousa, os pais ainda não estão acostumados a trabalhar com os filhos a relação com o dinheiro. A especialista em economia comportamental defende que a possibilidade de tratar o assunto de forma lúdica, enquanto eles são crianças, vai torná-los adultos mais conscientes e que sabem esperar e se planejar.

“Precisamos primeiro tomar consciência do grau de endividamento dos pais. Dentro da neuroeconomia, é perceptível a repetição de padrão. Então falar de endividamento, de dinheiro, de soluções financeiras dentro de casa, de forma natural, no dia a dia, nas compras, é extremamente importante para que não tenhamos uma próxima geração de consumistas, que passe por problemas de ansiedade, depressão e endividamento”, afirma.

Para a pequena Geovana Landulfo, de 10 anos, o assunto já é corriqueiro em casa. Ela tem o tradicional cofrinho, mas faz também depósitos em sua poupança e usa seu cartão de débito quando necessário. Filha de uma professora universitária e de um economista, aos poucos, a pequena já está entendendo até o que é inflação e juros.

Os pais, Edval e Cristiane, Landulfo contam que, desde que ela tinha 2 anos, eles iam estimulando a relação dela com o dinheiro. “Costumamos brincar com jogos de tabuleiro que tenham proximidade com o tema, vamos conversando sobre de onde vem o salário, contando histórias, exemplos, tudo sem formalidade e deixando ela perguntar. É possível ir educando desde pequena, até porque, a educação financeira está muito mais ligada à questão comportamental do que financeira”, conta o pai.

Geovana tem uma poupança e costuma ir com o pai fazer os depósitos. Já o cartão de débito ela só usa com autorização, quando sai sem os responsáveis. A mesada ela mesma administra, mas os pais acompanham e estimulam para que ela tome decisões planejadas. Desde pequena, Geovana já sabe, por exemplo, que é sempre melhor pagar em dinheiro ou no débito. A lição foi aprendida com os pais nas idas ao supermercado.

Aprender a planejar

A especialista em economia comportamental acredita que abrir uma conta para a criança e deixar que ela administre uma determinada quantia pode servir para que ela aprenda a se controlar e planejar. “Mas, claro, essa quantia deve ser limitada e monitorada pelos pais”, alerta a educadora financeira.

Na casa da babá Ingrid Souza, dinheiro também é tema recorrente entre os pequenos. Mãe de uma menina de 10 anos e um menino de 7, ela conta que desde que eles eram ainda menores já conversava com os dois sobre a necessidade e a importância de saber economizar. As orientações da mãe são sempre no sentido de ficarem atentos aos custos de itens, evitando gastos exorbitantes, principalmente no supermercado.

“Procuro educar sempre mostrando a realidade, levando ao mercado, mostrando os preços, mostrando como a gente pode economizar, não só dinheiro, como também as coisas dentro de casa, no que a gente puder economizar é sempre melhor, né? Mostrando comparação de preços, essas coisas”, diz.

Os filhos de Ingrid ainda não têm cartão de crédito ou mesada, mas colocam em prática os ensinamentos quando, eventualmente, têm acesso a dinheiro ou ao cartão da mãe em compras no mercado. Para Ingrid, a educação financeira é importante para que as crianças se tornem adultos responsáveis financeiramente.

“Por isso que eu dou essa criação, para no futuro eles terem (mais dinheiro), não precisarem economizar tanto como a gente economiza agora que as coisas estão mais difíceis. Ao decorrer do tempo, quando eles crescerem, creio que vão ficando mais difíceis ainda as questões financeiras, por isso procuro dar essa educação para no futuro eles já estarem bem encaminhados”, explica a mãe.

Thaíne Clemente, executiva de estratégias e operações da Simplic, uma fintech de crédito pessoal, avalia que o dinheiro ainda é visto como um tabu na relação entre pais e filhos. De acordo com ela, muitos brasileiros acreditam que falar sobre finanças pode incentivar um comportamento consumista. “Mas, na verdade, o foco é compreender como uma relação saudável com o dinheiro pode auxiliar as pessoas a atingir seus sonhos”, afirma.

A idade ideal para passar a estimular as crianças nesse universo é, segundo a executiva, a partir dos 3 anos. Até a faixa dos 5 anos, a orientação da especialista é que os pais comecem apresentando as notas e moedas e simulando situações do dia a dia, como por exemplo a compra de um chocolate.

“Para crianças maiores, que já possuem noções de operações matemáticas, vale falar sobre poupança dando um cofrinho para ela. Pode usar como exemplo, o desafio de em quanto tempo a criança vai ter o dinheiro suficiente para comprar um brinquedo se ela guardar a mesada no cofrinho”, sugere.

As idas ao supermercado, dinheiro de mentira e a própria mesada também podem, segundo a especialista, ser aliados no processo. A orientação, no entanto, é que sempre que a criança quiser comprar algo diferente, os pais conversem e analisem junto com ela os prós e contras da compra. “Assim o pequeno pode desenvolver o senso de escolha e entender o impacto de suas decisões”, afirma a executiva da fintech.Economista Edval Landulfo com a sua filha Geovana – 

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