Luxemburgo observa Luiz Adriano em treino de finalização — Foto: Cesar Greco/Ag. Palmeiras
Contratado a pedido de Vanderlei Luxemburgo, com quem trabalhou no ano passado, o novo coordenador científico do Palmeiras discorda de quem pensa que o técnico não está atualizado. Para Daniel Gonçalves, ele está, na verdade, à frente do tempo.
Com passagens por Vasco (além de 2019, também entre 2003 e 2014, em outras funções), Criciúma (2015) e Flamengo (entre 2015 e 2018), ele cita como exemplo a proximidade do treinador com as ferramentas modernas à disposição do clube.
– Apesar de estar há bastante tempo na praça, um treinador longevo, é um treinador de vanguarda. Perceba quantas vezes ele está do lado do fisiologista controlando a carga de treinamento em tempo real pelo GPS – diz o profissional, que é formado em Educação Física e Ciência do Esporte, tem licença A de treinador da CBF, MBA em Administração Esportiva e pós-graduação em Fisiologia do Exercício.
– Ele já atua de maneira direta, fazendo intervenções no treinamento dele com informação tecnológica em tempo real. Somente um treinador atento a questões tecnológicas, de vanguarda, atuaria assim. Eu vejo o Vanderlei um treinador à frente do seu tempo por conta dessas questões. Ele consegue ter um entendimento do todo. A visão dele é holística, ele sabe o quanto diversas situações podem impactar dentro do campo de jogo.
Veja outros trechos da entrevista:
Que estrutura você encontrou no Palmeiras?
– Uma estrutura top. A gente já vinha acompanhando a evolução. O Palmeiras é um clube muito acolhedor e, ao longo do tempo, tem realizado eventos, congressos, possibilidades de receber profissionais de outros locais, outros centros, para conhecer a estrutura. O Palmeiras abre o CT para outras equipes que vêm jogar em São Paulo. Então, você acaba conhecendo, tendo interação não somente com os profissionais, mas também conhecendo a estrutura física. Uma estrutura não só do ponto de visto tecnológico e físico adequada, mas também em termos de processo, porque você consegue adequar tudo aquilo que tem de equipamento e estrutura física a um processo adequado para permitir que o atleta, individualmente, e a equipe, coletivamente, se desenvolvam.
No seu cargo atual, de controle dos processos entre as áreas da parte física, quando há uma mudança de clube, leva muito tempo para adaptação?
– Cada clube tem que ter o seu processo, porque cada clube tem sua cultura, suas particularidades, suas peculiaridades, seu DNA. Nós, como profissionais, temos que entender o quanto antes como é o DNA dessa equipe. O estabelecimento do processo é de acordo com essa cultura implementada, não o inverso. É claro que exige uma adaptação. Aos poucos, a gente vai interagindo mais com os profissionais, conhecendo os processos. Obviamente que também colocando nossas sugestões, nossos métodos, nossas intenções, para que a gente possa adequar em prol do objetivo maior, que é levar o Palmeiras em 2020 à conquista de títulos.
No entendimento do todo, está a preocupação em fazer o Palmeiras voltar a ser um time que tenha mais posse de bola e que proponha o jogo. Nas palavras de Gonçalves, um time com o DNA do clube. O que, para ser colocado em prática em campo, precisa passar também pelo trabalho diário do Núcleo de Saúde e Performance com os atletas na Academia de Futebol.
– O trabalho indoor, dos outros processos, gira sempre em torno do modelo de jogo. O modelo de jogo é capitaneado, liderado pelo treinador, mas existe já um modelo de jogo ideal de acordo com a história do Palmeiras desde 1914. Cabe à gente entender isso e aplicar nossos conceitos, sejam eles de filosofia, de processo, ao modelo de jogo que vai ser instituído pelo Luxemburgo, baseado em todos esses valores – explica.O Luxemburgo diz que tem dado treinos um pouco mais puxados do que de costume porque quer um time que pressione o tempo inteiro, que tenha a bola de volta rapidamente. Isso interfere no trabalho que vocês coordenam lá dentro, certo?
– Perfeitamente, sem sombra de dúvida. Qual o objetivo? O Palmeiras tem a necessidade de ser uma equipe dominante. Para ser uma equipe dominante, tem que recuperar rapidamente a bola, tem que ser muito efetiva no pós-perda. Para ser efeito no pós-perda, tenho que ser agressivo nessas ações de retomada, de pressão ao portador (da bola). Ele tem falado em criar um modelo de agressão logo na perda, na transição defensiva, até seis segundos, ou até dez segundos, e depois vamos estabelecer outras estratégias, mas de forma que a gente seja sempre agressivo na retomada da bola. Para isso, a gente precisa adaptar algumas situações. Por exemplo… Muito se diz que o treinamento na areia diminui velocidade por conta da reatividade do solo. Perfeitamente explicável, Terceira Lei de Newton, ação e reação. Se você tem um piso macio, em relação a um piso mais duro, que é a grama, a tendência é não reproduzir aquela adaptação de maneira adequada. Só que o objetivo não é velocidade.
Temos visto ele pedir um gás final aos jogadores justamente nos últimos minutos dos treinos físicos, dizendo que é nessas horas que algum adversário descansado vai aproveitar.
– Exatamente. É ter essa consciência corporal alta e também coletiva de saber que em determinadas situações você vai ter que ter uma tolerância ao desconforto e à fadiga. Esse é o momento mais adequado, o de pré-temporada, em que a gente não tem jogo. A gente precisa elevar o condicionamento físico, mas permite que a gente leve um pouquinho mais para essas questões físicas, entre aspas um sofrimento, para que eles se adaptem e ganhem lá frente, atinjam um nível de condicionamento maior.