segunda-feira, maio 20, 2024
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Inquilinos e donos de imóveis negociam pagamento do aluguel

O isolamento social é a realidade de grande parte da população. Mas e o custo de ficar em casa? Com a redução de salários e o aumento de desemprego, tem se tornado cada vez mais difícil manter as contas em dia. Principalmente o aluguel. O caminho? Negociação. Porém é essencial ter em mente que o dinheiro está escasso dos dois lados: locatário e proprietário.

“O cobertor é curto, então não adianta desvestir um santo para vestir outro. A dificuldade é generalizada e a maioria dos proprietários de imóveis tem o aluguel como única fonte de renda. Claro, não está fácil para ninguém, por isso é preciso entender a situação dos dois lados”, explica Kelsor Fernandes, presidente do Sindicato da Habitação (Secovi), na Bahia.

A realidade de que o valor desse aluguel é a renda de alguém foi um dos argumentos que excluiu o aluguel residencial do projeto de lei (PL nº 1.1179/2020) criado pelo senador Antônio Anastasia, que suspendia os prazos contratuais até outubro de 2020. Substituído pelo projeto da senadora Simone Tebet, o PL que propõe um regime jurídico emergencial foi enviado à Câmara dos Deputados

“Porém o inquilino ainda pode revisar o contrato”, explica a advogada e membro da Comissão de Direito Imobiliário e Urbanístico da OAB-BA, Lessiene Sardinha. O contrato é um documento legal que deve refletir a vontade das partes e a construção de um bom relacionamento, e “a negociação deve ser conduzida de uma forma que o acordo seja benéfico para ambas as partes”.

E é exatamente isso que a locatária Jamile Alves Gomes está planejando fazer. Trabalhando no setor administrativo de sua empresa, Jamile está em home office e teve o salário reduzido. Ainda em dúvida se conseguirá pagar o aluguel deste mês, ela já bolou a proposta que pretende fazer ao proprietário do imóvel: suspender de 30% a 50% o valor do aluguel, de abril até junho.

“A partir de julho eu volto a pagar o valor integral. Como sei que em agosto e setembro estarei com dívidas, apenas em outubro eu conseguiria dar uma respirada melhor para reembolsar o valor dos meses que paguei apenas uma parte. Isso, claro, em três ou quatro parcelas”, ela explica. Esse tipo de negociação, na verdade, tem se tornado comum e o melhor caminho em muitos casos.

Suspensão

Mas é preciso ter atenção, comenta Juliana Spínola, que trabalha no setor de recursos humanos da Itaigara Imóveis. “Alguns locatários ligam exigindo desconto nos próximos meses, achando que não terão que reembolsar futuramente. Não é bem assim que funciona”. A negociação mais comum tem sido a suspensão parcial do aluguel, ou seja, o valor não pago agora terá que ser pago em algum momento.

Mas cada caso é um caso e existem 1.001 formas de resolver isso, conta Sérgio Sampaio, diretor da Administradora Sérgio Sampaio e da Fecomércio-BA. “Uma ponta depende da outra, e caso elas não tenham uma relação equilibrada, é papel da administradora criar um intermédio. As pessoas com algum rendimento e que vivem de aluguel não estão sendo muito afetadas, mas aquelas que não têm esse dinheiro reserva estão conseguindo negociar da melhor forma possível”.

É uma questão de alcançar o melhor acordo, como fez a empresária Ananda Silva. Sócia do restaurante Comida de Boteco, ela precisou negociar o aluguel de casa porque sua principal fonte de renda (o restaurante) teve de ser temporariamente fechado devido às medidas preventivas contra a Covid-19. Sua estratégia? Conversar com a corretora, antes do vencimento do aluguel, sobre a sua situação e fazer uma proposta.

Com isso, ficou combinado que o pagamento do aluguel, que seria realizado no dia 10 de abril, passaria para o dia 28. “Liguei antes do prazo porque acho que em um momento como este é importante nos comunicarmos e sermos flexíveis, tanto quem vai pagar quanto quem vai receber”, diz Ananda. O restaurante não realiza delivery (apesar de estar nos planos), mas na Sexta-feira Santa realizou entregas em domicílio com o intuito de arrecadar a quantia para o pagamento do aluguel.

Condôminos e síndicos já conversam para ajustar gastos

Não só quem paga aluguel residencial tem procurado formas de reduzir seus gastos. Muitos condôminos têm procurado conversar com seus síndicos a respeito das taxas extras – usadas para pagar investimentos esporádicos e pontuais de reformas preventivas ou de valorização do edifício –, para ao menos reduzir um pouco o valor da taxa condominial.

“Os moradores têm conversado por meio do grupo que temos no WhatsApp sobre a possibilidade da suspensão de algumas dessas taxas, para aliviar ao menos um pouco no final do mês. Já falamos também com o síndico, mas ainda não tivemos uma resposta definitiva”, conta a professora de educação física Susana Teles.

A advogada Lessiene Sardinha ressalta que o ponto principal a ser entendido por todos os condôminos é que o pagamento das cotas condominiais é essencial para a sobrevivência e manutenção do condomínio, especialmente contas de consumo e salários dos funcionários e colaboradores que garantem o equilíbrio do empreendimento e a segurança de todos.

“Por outro lado, em tempos de crise, os síndicos, administradores e gestores condominiais, dentro da realidade de cada condomínio, devem promover planos de ação, utilizando, sobretudo, o bom senso para evitar o aumento da inadimplência dos condôminos”, explica Lessiene.

Dicas para a negociação

Organização – Não adianta ir atrás de uma negociação sem ter na ponta do lápis seus gastos. Pelo contrário, o novo acordo pode mais atrapalhar do que ajudar

Sensatez – Estamos vivendo uma pandemia mundial e a crise econômica está afetando a todos. Então tenha isso em mente, seja locatário ou proprietário

Honestidade – O melhor caminho é explicar toda a sua situação desde a familiar até a trabalhista, deixando a outra parte por dentro de sua condição e do porquê precisa negociar. Imagem, Bruno Axiz, A Tarde. Texto, Priscila Dórea e Madson Souza*. A Tarde.

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