Assassinato de quilombola tem três linhas de investigação

As investigações correm em sigilo, no entanto, o advogado da família diz ter poucos elementos concretos.

Por Hieros vasconcelos Rêgo

O assassinato de Bernadete Pacífico, 72 anos, ialorixá, ferrenha defensora dos Direitos Humanos e líder do quilombo Pitanga dos Palmares, em Simões Filho, chocou o Brasil e tem causado diversos protestos pedindo agilidade e investigação rigorosa. Ontem, representantes das polícias Civil Militar se reuniram para discutir sobre as investigações sobre o crime.

A Polícia Civil tem trabalhado com três teses para o assassinato de Mãe Bernadete: briga por território e intolerância religiosa são investigadas, no entanto, a mais forte pela apontada pela instituição é de disputa de facções criminosas e tráfico de drogas.

Morta com 11 tiros no rosto, a liderança quilombola já foi secretária municipal de Promoção da Igualdade Racial de Simões Filho e atualmente era coordenadora Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq).

Ainda ontem, o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, afirmou que “Essa tem sido, na tese da Polícia Civil, a mais premente, a que ‘possa acontecer’ [pode ter acontecido]. Se isso aconteceu, da mesma forma ós haveremos de nos debruçar sobre ela, em uma parceria integrativa com o governo federal, com a Polícia Federal”.

A tese é refutada veementemente pelos familiares e pelo advogado David Mendez,  sócio fundador e diretor jurídico Instituto Malê de Acesso à Justiça e Cidadania. “Não tem o menor cabimento. Mãe Bernadete não tinha envolvimento com criminalidade, tampouco a comunidade Pitanga dos Palmares. Isso é escandaloso,  esperamos que o caso seja investigado com rigor, e venha à  tona  verdade”, afirmou Mendez.

O advogado criticou, ainda, a blindagem que estaria sendo feita para ele não ter acesso aos encaminhamentos do caso.  “Me causa estranhamento a dificuldade que nós temos de ter acesso a órgãos e representantes do poder público. O Estado parece não querer dialogar conosco enquanto advogado, enquanto comunidades quilombolas, comunidades tradicionais. Houve uma reunião no sábado, no CAB,  na qual nós advogados, contra a vontade expressa e manifesta da família, não podemos ter acesso sequer ao prédio do MP-BA. A reunião passou toda a tarde, de 14h30- ate 128h sem a nossa presença”, reclamou.

As investigações correm em sigilo, no entanto, Mendez diz ter poucos elementos concretos. Mãe Bernadete teve o filho Flávio Gabriel Pacífico dos Santos, conhecido como Binho do Quilombo, assassinado a tiros em  19 de stembro de 2017 quando estava dentro de um veículo.

Apesar das teses levantadas pela polícia, há movimentos sociais, e até mesmo pessoas próximas às vítimas, que afirmam que o crime foi relacionado à disputa pelo território para ser explorado. Bernadete vinha denunciando constantemente ameaças de grileiros e madeireiros que queriam tomar posse da região, uma APA (Área de Proteção Ambiental).