Abraçados na liderança mundial da Covid-19, Bolsonaro e Trump preterem a saúde, em nome da política

Por ANTONIO MASCARENHAS

Na devastação provocada pela Covid-19, em todo o planta, em que milhares de vidas estão sendo ceivadas, dois nomes da política mundial vêm se  “destacando”, não em face de suas atuações no intuito de combater esse inimigo invisível mas, sobretudo, pela coincidência de propósitos: preocupação com a politica. Brasil e Estados Unidos, hoje, são exemplos cabais de que a saúde não vem sendo priorizada a contento (não apenas no atual mandato, evidentemente. Aqui e lá.

Faz-se necessário que os chefes de governo desses países possam, de fato, não apenas verem mas, antes de tudo, enxergarem que a vida está acima de interesses pessoais. Reeleição ou não será consequência do sucesso ou não de cada um nessa guerra cujo inimigo é comum. 

GRIPEZINHA

Bolsonaro e Trump que, no início da pandemia, tachavam, com certo deboche, que o coronavírus era, apenas, uma “gripezinha” veem-se, nesse momento, “abraçados” nessa liderança nada invejosa de governantes de países que lideram estatísticas de infectados e mortes pela Covid-19.  A adoção tardia de providências só fez agravar o quadro. Passaram os dias e os Estados Unidos assumiram a liderança mundial no número de infectados e mortes. O Brasil, na retaguarda, foi, ao longo desse tempo, dando passadas largas em busca da nefasta “vice-liderança”, também,  no número de infectados e mortes.

Nessa trajetória, teve que ultrapassar a China, Espanha, Reino Unido, Itália, numa escalada galopante, mas que, já havia sido prevista pelo ex-ministro Mandetta que, de antemão, advertia que a quarentena e confinamento seriam necessários para evitar que o índice de contaminações provocassem o colapso no sistema de saúde. A quase que totalidade dos municípios estava (a situação foi minorada em alguns quesitos) despreparada para atender a demanda reinante: falta de leitos, UTIs, respiradores e, em muitos casos, médicos.

Tanto Mandeta como seu sucessor, na pasta, Nélson Teich, discordaram do posicionamento do chefe da nação, no que tange à condução das ações que deveriam ser protagonizadas pelo Ministério da Saúde, à luz das premissas da Organização Mundial da Saúde. Indo de encontro a todas nuances que recomendavam o distanciamento social, o presidente Bolsonaro buscava aproximar-se da população, sem uso de máscaras, de certa forma incentivando que outras pessoas o fizessem. Por conta da quebra de todo um protocolo emanado da OMS, a situação chegou ao nada invejável patamar.

ASSESSORIA DE IMPRENSA X REDES SOCIAIS

Diferente de outros governos, o chefe da nação, acostumado com seus pronunciamentos direcionados à rede social, sempre preteriu a participação mais efetiva da coordenação de imprensa, no seu governo. Toda vez que em que há reações por parte de segmentos da sociedade brasileira, com relação as suas falas, ele, quase sempre, busca minimizar o estrago que, quase sempre, deixa máculas. Acontece que o somatório desses deslizes acabam gerando situações que colocam em xeque sua atuação. 

Vendo que tais pronunciamentos via rede social estão criando embaraços ao seu governo, principalmente, no aspecto político-partidário, recria o Ministério de Comunicações, numa tentativa de minimizar tais empasses. Resta saber qual será a relação desse ministério com o que deverá ser veiculado nas redes.

APROXIMAÇÃO COM O CENTRÃO QUE TANTO COMBATIA EM CAMPANHA

O combate à velha política, acusada de ser alimentada pelo tão propalado “toma lá, dá cá”, foi uma das prerrogativas bastante utilizadas durante a campanha eleitoral do presidente. Dentre as premissas, envolvidos em casos de corrupção, jamais teriam vez no seu governo. No Centrão, a concentração de alguns parlamentares que estiveram envolvidos na Operação Lava Jato. 

Especialistas asseveram que essa aproximação tem por escopo constituir um número de parlamentares que possam “brecar” pedidos de impeachment, à luz de acusações que pairam no seio das hostes oposicionistas.

PROTAGONISMO DE GOVERNADORES E PREFEITOS NO COMBATE AO CORONA´VIRUS

Um dos grandes problemas, causados pelas atitudes intempestivas do presidente, diz respeito ao embate desnecessário e injustificável com governadores e prefeitos que primam em decretar medidas preventivas contra a não disseminação da doença e que incluem, dentre outros aspectos, o distanciamento social. 

Se houvesse uma comunhão de esforços, envolvendo as três esferas governamentais e apoio da população, bastariam, apenas 30 dias para que o vírus não fosse mais propagado. Lockdown durante, no máximo 30 dias, com abertura, apenas, se serviços essenciais, não levaria o país a essa nada invejável colocação no número de infectados e mortes e o comércio não estaria tão prejudicado, significando, por conseguinte, manutenção de milhares de emprego. Esse “abre e fecha”, essa flexibilização mutante, aqui e acolá,em todo o pais, é que dá asas a essa  avalanche de casos. Em que pese a contaminação comunitária, os casos seriam melhor localizados e, por conseguinte, estancados a partir desses “nichos sociais”

O auxílio emergencial, está sendo muito importante, para que a situação possa ser minorada, no seio da população. Depois dessa “tacada dentro” (termo usado em mesas de snook”, por que não continuar não continuar nesse mesmo diapasão?!

IMPEACHMENT

Em que pese haver vários pedidos para a abertura de uma CPI buscando impeachment do presidente, a não ser que haja provas contundentes e irrefutáveis, acerca das acusações a ele imputadas, pela oposição, acreditamos que esse não é momento para essa deflagração, mesmo porque, na atual conjuntura, o importante é a preservação de vidas. Campanha política, para a esfera federal, ainda está distante.

Nesse contexto, Bolsonaro, mais uma vez, pecou no momento em que, ao invés de buscar esse protagonismo, preferiu perdê-lo, nesse embate desnecessário com os mandatários de outras esferas de governo. Mas ainda há tempo para que toda essa situação possa ser refeita. Infelizmente, depois de tantas mortes. 

A sociedade brasileira quer que presidente, governadores e prefeitos se unam, de fato, para que o número de infectados possa cair, o quanto antes, diminuindo o número de mortes e que a economia possa, enfim, ser restabelecida. Inserção de imagem divulgação, , BRENDAN SMIALOWSKI/AFP/GETTY IMAGES.