O piquenique é, na verdade, um chamariz para convencer, por algumas horas, as puérperas que acompanham seus recém-nascidos a saírem da Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Materno-Infantil Dr. Joaquim Sampaio, em Ilhéus, onde vivem um turbilhão de sentimentos, incertezas e expectativas. São mulheres residentes em Ilhéus, Valença, Itacaré, Una, Wenceslau Guimarães, algumas muito longe da família – e até de outros filhos -, que passam a viver dentro do hospital aguardando, ansiosas, por uma alta médica para poder voltar pra casa.
Na área verde do hospital elas se encontram, respiram o ar puro que renovam a esperança da vitória e trocam experiências com relatos que dão força uma à outra sob os olhares atentos e da intervenção da equipe de psicologia e de terapia ocupacional do HMIJS. Ontem à tarde elas também passaram pelo processo de sensibilização sobre o cuidado do Câncer de Mama e por momentos de relaxamento, contribuindo para facilitar as expressões de sentimentos e emoções vivenciadas na unidade.
A solução
Nátila Natália, de 24 anos, residente em Una, sul do estado, está há um mês acompanhando a prematura Maya Vitória, na UTI Neo. Desde o dia 17 de setembro não vai em casa. “No começo foi muito desesperador”, confessa. “A gente quando está fora de um problema, não imagina o que é vivenciar este problema. Sempre ouvia falar de UTI e aqui quando cheguei pude ver muitos aparelhos, minha filha naquela situação toda. Naquele momento a gente acha que aquilo ali é o fim. Na verdade, é a solução”, relata.
A mãe de Maya Vitória assegura que este período no hospital tem sido de amadurecimento e de aprendizados. “De entender que o processo que a gente quer em nosso tempo, tem que ser no tempo do bebê”, relata. Nátila destaca a importância da presença diária da equipe multidisciplinar do hospital. “Elas nos entendem. Entendem que muitas vezes a gente não quer nem falar. Mas que um abraço resolve aquele momento”, diz, emocionada.
Novos ares
“É preciso construir esse momento, sair do ambiente de um hospital e mostrar que é preciso lutar para vencer os desafios impostos pela vida. Aqui a dor de uma é a dor de todas. E é possível, de forma coletiva, também trabalhar pela reconstrução de sentimentos de alegria”, assegura a psicóloga Maria Quintino.
Essas ações fazem parte da campanha de humanização nos serviços oferecidos pelo hospital. A diretora Domilene Borges lembra que, apesar de projetado para atender a oito municípios da região de Ilhéus e 12 da região de Valença, no ano passado o Hospital Materno-Infantil atendeu a população de 110 municípios baianos e, até, de outras regiões do Brasil. “São muitas pessoas distantes de familiares, vivenciando aqui dentro as dificuldades do enfrentamento a uma UTI, por exemplo. Por isso é preciso oferecer momentos como estes, para que elas possam manifestar os seus sentimentos e ter ajuda dos nossos profissionais”, afirmou.
Em dezembro, o Hospital Materno-Infantil completará dois anos de funcionamento. Foi construído pelo Governo da Bahia para ser a primeira maternidade 100 por cento SUS da região sul do Estado. A unidade, desde a sua inauguração é administrada pela Fundação Estatal Saúde da Família. Possui 105 leitos para obstetrícia, partos normal e de alto risco, pediatria clínica, UTIs pediátrica e Neonatal e já ultrapassou a marca de cinco mil bebês nascidos na unidade.