O desgaste do general Eduardo Pazuello no Ministério da Saúde é evidente e exposto diariamente com os dados da pandemia do coronavírus no Brasil. Sem qualquer capacidade de permanecer no posto, o ministro “respira por aparelhos”, num infeliz trocadilho com os milhões de brasileiros que estão internados com Covid-19 – aqueles sortudos que ainda conseguiram uma vaga em unidade de terapia intensiva. O episódio envolvendo o convite à cardiologista Ludhmila Hajjah para sucedê-lo deveria ser um golpe de misericórdia. Acabou se transformando em mais uma cena da tragédia que se tornou o país.
A médica participou de um encontro com o presidente Jair Bolsonaro, com o próprio Pazuello e com o deputado federal Eduardo Bolsonaro (oi?) neste domingo (14). Era parte das negociações para que Ludhmila assumisse o ministério. Saiu de lá sob intenso ataque do bolsonarismo nas redes sociais, com intimidações virtuais. Ficou ainda pior a situação com o relato excruciante de tentativas de invasão do quarto em que ela estava hospedada em Brasília e também ameaça de morte. Não é questão de bom senso, é questão de racionalidade. Voltamos à barbárie e ninguém consegue admitir que esse mundo cão não é normal?
Ludhmila foi corajosa. Primeiro por aceitar conversar com Bolsonaro no contexto do negacionismo que ainda impera no governo federal. Ela é uma profissional com reconhecimento na área científica e talvez por inocência – ou por fingir que uma peneira pode tapar o sol – chegou a cogitar assumir a pasta da Saúde. A médica talvez tenha sido a melhor opção para o ministério ao longo dos últimos meses. Diferente do último “doutor” que passou por lá, Nelson Teich, a cardiologista não escondeu que o negacionismo foi a grande barreira para que ela fosse nomeada. Teich preferiu se omitir.
Como a mais cotada para o posto até então, Ludhmila, em tese, poderia revolucionar o ministério, tal qual necessitamos em um momento em que a crise se agrava. Bolsonaro optou por não tê-la ao seu lado. Possivelmente, não esperava que a voz dela ecoasse de maneira tão dramática após a recusa do convite. A médica traduziu em palavras o que há muito especulávamos: o governo não possui um plano para enfrentar a pandemia, aquilo que poderia dar certo é rechaçado por uma ideologia nefasta e estamos à mercê de um presidente acéfalo do ponto de vista científico (para manter um mínimo de respeito).
O figurante de ministro continua no cargo, mas em clima de despedida. O cardiologista Marcelo Queiroga assumiu a missão, não sabemos em que condições. Pelo que se viu até aqui, Bolsonaro queria alguém para trocar seis por meia dúzia para dar continuidade a essa política macabra de quanto mais mortes melhor. Afinal, como Ludhmila falou, economia é a prioridade para o governo. Espero, sinceramente, que o novo ministro não seja uma versão 2.0 de Pazuello.Foto: Reprodução/ CNN Brasil. Bahia Noticias