As desavenças entre o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Justiça, Sérgio Moro, dividiram os aliados do governo no Congresso em dois grupos. De um lado, os “moristas” querem que o ministro enfrente a interferência de Bolsonaro e, se não conseguir carta branca, entregue o posto. Do outro, “bolsonaristas” minimizam a tensão, defendem em público a manutenção de Moro e pegam carona na popularidade dele, mas não o consideram insubstituível. “O que queremos é governabilidade. Se for preciso, e se houver algum tipo de ação que necessite blindar Moro no Parlamento, faremos isso. Ninguém é insubstituível, mas acredito que isso não passa pela cabeça do ministro”, afirmou o deputado Marco Feliciano (Podemos-SP).
“O presidente tem demonstrado o desejo de ter Moro a seu lado num projeto político de longo prazo. Agora, se chegar outro ministro com trabalho bom, em 60 dias se esquece o outro”, disse o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE). Nos últimos dias, aumentaram no Congresso os rumores de que Moro estaria disposto a abrir mão do cargo, caso Bolsonaro continue a medir forças com ele, como tem feito ao exigir mudanças na Polícia Federal. Mesmo deputados e senadores que não veem esse movimento admitem um processo de “fritura” do titular da Justiça, comandado pelo presidente.
A divisão entre “moristas” e “bolsonaristas” virou disputa por comissões do Congresso. No último dia 28, por exemplo, uma articulação de última hora pôs o senador Zequinha Marinho (PSC-PA) no comando da Comissão Mista Permanente de Mudanças Climáticas, que agora vai focar nos debates relacionados às queimadas na Amazônia. Zequinha é ligado a Bolsonaro. Durante a instalação da comissão, ele defendeu a regularização fundiária na região atingida pelos incêndios. “Não se pense que lá (Amazônia) é apenas um santuário, não. A Amazônia tem mais de 20 milhões de habitantes”, afirmou o senador.
Havia um acordo entre líderes de partidos para que o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), próximo a Moro, fosse o presidente da comissão. O Planalto não gostou da indicação. Resultado: o acordo foi quebrado. Para o grupo “morista”, o ex-juiz da Lava Jato deve estabelecer condições para permanecer no cargo. Uma delas seria a autonomia para manter quadros técnicos na Polícia Federal e o diretor-geral da corporação, Maurício Valeixo.
Em conversas recentes, Moro foi aconselhado por senadores a impor suas exigências a Bolsonaro, para não perder autoridade. “Você não pode se apequenar” e “Se perder o poder de indicação na Polícia Federal, você está morto”, foram frases ditas por parlamentares ao ministro.
“Não vejo motivos para a substituição na PF. O trabalho vem sendo exemplar e está no início. Qualquer alteração não será pelos melhores motivos”, disse Alessandro Vieira, que foi diretor-geral da Polícia Civil em Sergipe, entre 2016 e 2017. A ala próxima de Moro também cobra dele uma posição firme em relação às interferências do presidente na Receita Federal e no Coaf. Há entre os “moristas” os que pedem ao ministro para tirar dividendos da crise e pedir demissão “ao vivo”, durante entrevista.
Na avaliação desse núcleo, que votou em Bolsonaro, mas se diz decepcionado com ele, o presidente deixou de priorizar o combate à corrupção e as ações de segurança pública – suas principais bandeiras de campanha – ao escantear Moro.
O secretário de Segurança do Distrito Federal, Anderson Gustavo Torres, cotado para substituir Valeixo, virou alvo. “É um absurdo essa fritura em cima do Moro. Está na cara que o presidente acabou não priorizando a segurança pública”, comentou Marcio Bittar (MDB-AC). O senador Major Olimpio (PSL-SP) admitiu ser necessária a conciliação entre os grupos, e observou que Moro precisa receber apoio. “Sérgio Moro deve ser tratado com toda distinção pela capacidade e credibilidade que ele tem para o mundo e os brasileiros porque ele só soma ao governo”, afirmou o líder do PSL no Senado.Pré-título, aspeado, Tvsaj.Matéria, Tribuna da Bahia. Foto: Reprodução/BBC