Um incêndio destruiu nesta quinta-feira, 29, um galpão da Cinemateca Brasileira em São Paulo que continha cerca de 2 mil cópias de filmes, em um incidente considerado por profissionais do audiovisual uma “tragédia anunciada”, devido ao descaso do governo Jair Bolsonaro com as políticas culturais.
Quinze caminhões de bombeiros com mais de 50 homens passaram mais de duas horas combatendo as chamas, que destruíram grande parte do prédio, segundo imagens veiculadas na televisão.
O incidente teve início por volta das 18h, durante uma operação de manutenção do sistema de ar condicionado, segundo o Corpo de Bombeiros, que indicou que pelo menos duas salas com filmes e outra com arquivos impressos foram destruídas.
A rapidez de propagação do fogo se deve aos películas em acetato, material extremamente inflamável, de acordo com relatos.
O edifício que pegou fogo não é a sede da Cinemateca, que fica em outro bairro de São Paulo. Esse galpão guardava cópias de filmes, muitos deles raros e às vezes em melhores condições que os originais, segundo especialistas.
Nos últimos anos, vários prédios dessa instituição, fundada em 1940, foram afetados por quatro incêndios e uma inundação. Cineastas, artistas e funcionários denunciam há meses uma política de “desmonte” da Cinemateca pelo governo de Bolsonaro.
Em julho de 2020, o Ministério Público de São Paulo ajuizou uma ação contra o governo federal por “abandono” da Cinemateca, questionando a retenção de recursos e a ausência de um gestor. No mês seguinte, a instituição parou de funcionar e 41 funcionários foram demitidos.
Em abril deste ano, um “Manifesto dos Trabalhadores da Cinemateca Brasileira” alertava para o “risco de incêndio”, devido à falta de cuidado com “o acervo, os equipamentos, as bases de dados e a edificação da instituição”.
O incêndio desta quinta-feira foi “uma tragédia anunciada”, disse o crítico de cinema Lauro Escorel à GloboNews.
O cineasta Kléber Mendonça denunciou em entrevista à AFP no início deste mês em Cannes, na França, a “sabotagem do sistema de apoio à cultura” e em particular a situação da Cinemateca.
“Sobre o fechamento da Cinemateca, nem sei como falar. É como se hoje o Brasil não tivesse aceso ao seu álbum de família. A Cinemateca não e só um depósito, é um lugar vivo com a memória do pais”, declarou o diretor do Bacurau. Foto reprodução, Twiiter. A Tarde.