Acompanhada de uma assistente social e de um familiar, a menina de 10 anos que engravidou após ser estuprada em São Mateus (ES) viajou ontem (16) a Recife (PE), para ser submetida à interrupção da gestação. Grávida de cinco meses, a criança relatou que sofria abusos cometidos pelo próprio tio, de 33 anos, desde que tinha 6. O acusado está foragido.
Grupos conservadores evangélicos e católicos foram protestar na porta do Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (Cisam) e tentaram impedir a realização do procedimento. Após a confusão, um grupo de mulheres foi ao local defender o direito ao aborto, que é previsto por lei em caso de estupro. Segundo informações de ativistas feministas, a operação foi realizada e a criança passa bem.
No sábado (15), por determinação da Justiça, a menina chegou a ser internada em Vitória (ES), para realizar o procedimento, mas a equipe médica do Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes (Hucam) não o fez, alegando que a criança estaria com 22 semanas de gravidez, ou mais de cinco meses. O protocolo para a realização de aborto legal estabelece 12 semanas de gestação como limite.
Inicialmente, o estado para o qual a criança foi mandada não havia sido divulgado. No entanto, no final da tarde de ontem, a ativista extremista de direita Sara Giromini, conhecida como Sara Winter, vazou informações sigilosas sobre o caso, como o nome da menina e o endereço do hospital para onde ela foi, o que mobilizou grupos conservadores a irem até o local. Não se sabe como Sara teve acesso aos dados. Após a chegada dos religiosos, coletivos de mulheres se mobilizaram para demonstrar apoio à criança.
Segundo o portal G1, a Promotoria da Infância e da Juventude de São Mateus deverá investigar se pessoas ligadas a grupos políticos foram até a casa da família para pressionar a avó a não autorizar o aborto da criança. O MP também vai investigar áudios de conversas de pessoas que estariam pressionando a família da menina a não interromper a gravidez.
A lei brasileira permite a realização de aborto por meio do serviço público em casos de estupro, assim como nas situações de risco para a mãe ou de anencefalia do feto. Foto : Elza Fiúza / Agência Brasil. Metro1.