Por Hieros Vasconcelos Rêgo
Depois de mais de um milhão de pessoas na Lavagem do Bonfim, quem pensa que ontem (12) foi dia de descanso na Cidade Baixa se engana. Uma parte dos moradores e trabalhadores começaram os preparativos para a famosa Segunda-Feira Gorda da Ribeira, festa que desde meados do século 18 acontece na região. Atualmente, trazendo movimentação nos bares espalhados pela Avenida Beira Mar, a principal do bairro, e nas vias transversais.
A esperança é que a movimentação comece logo cedo com as praias da Ribeira lotadas, assim como os restaurantes onde será servido o tradicional Cozido da segunda-feira. “Alguns lugares contratam umas bandas de partido alto, as vezes tem umas fanfarras. Não é mais aquela grande festa como antigamente, mas a tradição permanece e nós comerciantes conseguimos lucrar um pouco mais”, comenta o comerciante Ormindo Lucena, 55 anos.
Por muitos anos a segunda-feira da Ribeira já foi uma festa de grande destaque e, realmente, cheia: após o cortejo notava-se que muitos romeiros e até mesmo moradores ainda embalados pelas festividades ficavam nas áreas do Bonfim procurando o que fazer, enquanto centenas de trabalhadores ainda não tinham vendido todos os seus produtos.
Resolveram juntar o útil ao agradável. No entanto, durante muitos anos o evento se chamava apenas Segunda do Bonfim, mas como o destino final era a Ribeira, para onde todos desciam em ritmo de festa, inclusive para continuar o consumo nas barracas de lá, o nome mudou para Segunda-Feira Gorda da Ribeira.
Iniciada em meados do século XVIII Segunda-Feira Gorda da Ribeira ganhou vida própria e status de Carnaval antecipado de Salvador. O nome da festa, inclusive, foi uma homenagem à figura de Rei Momo, patrono da folia carnavalesca.
Os moradores do bairro relembram com nostalgia os tempos áureos da celebração. “Isso aqui já teve trio elétrico na segunda-feira. Era realmente uma festona. Hoje diminuiu bastante e se resume mais às vendas nos bares e restaurantes mesmo. Mas ainda assim, temos e a expectativa é de uma boa movimentação”, comenta a gerente de um restaurante na Penha, Lindinalva Machado.
Apesar de muita gente saber que as segunda-feiras já não são mais tão gordas como antes, ainda dá para se divertir e fazer um dinheirinho. “Não é mais tão cheio como antigamente porque hoje em dia as pessoas se ajeitam fácil na hospedagem, não ficam os romeiros por aqui como antigamente. O povo vem pra Lavagem e volta no dia seguinte. Mas a tradição se mantém e muita gente da própria Cidade Baixa vem festejar conosco”, comenta o barraqueiro Aldair de Jesus Souza, dono da barraca Recanto do Dal, que há 30 anos participa da festa.
Ele conta que seus preparativos consistem em arrumar o espaço, limpar as mesas, colocar a cerveja para gelar e preparar a maniçoba. O Cozido só começa a ir pro forno no domingo a noite. “A maniçoba tem que ter uns dias de preparo com antecedência”, lembra. Foto: Romildo de Jesus. Tribuna da Bahia