A poluição do ar ou de um modo geral, das águas e dos solos, causa mais mal à população do que se tem imaginado. Calcula-se que, em todo o mundo, ocorram cerca de 7 milhões de mortes anuais cuja causa é atribuída à degradação ambiental. No Brasil, a Organização Pan-Americana de Saúde constatou que houve 51 mil mortes anuais causadas por ar tóxico. Um número maior que o de mortes em acidentes de trânsito. Pesquisadores dos EUA concluíram que o ar contaminado das cidades tem o mesmo impacto de fumar um maço de cigarros por dia.
Nos países em que os governantes se posicionam contra as decisões tomadas no Acordo de Paris e no COP na Polônia em 2018, sobre medidas de preservação ambiental, ignoram o fato de que combater a poluição ambiental gera benefícios para a economia em gasto com a saúde da população. Há uma ignorância ou resistência em reconhecer que os ganhos em saúde representam cerca do dobro do custo das medias para a proteção do meio ambiente.
Nos países não produtores de petróleo, já há política de substituição de veículos movidos a combustível fóssil por energia elétrica. No sul da China, a cidade de Shenzhen, 3 milhões de veículos deixaram de ser movidos a petróleo e passaram a usar eletricidade. Por isso, tornou-se a cidade menos poluída e a mais silenciosa do mundo.
Tomando como base o Brasil, as classes média-alta e empresarial são as que menos se sensibilizam com a questão ambiental. Preferem silenciar ou ridicularizar os ambientalistas, como faz o presidente Bolsonaro. Em parte, a insensibilidade quanto à degradação ambiental e seus efeitos, é em função do autoengano, no qual os indivíduos acham que preservar o meio ambiente redunda em diminuição da lucratividade das empresas. Mas há outro fator mais perverso ainda. O fato de que as pessoas pobres e de baixa renda são as mais vulneráveis à poluição ambiental: os moradores de rua, condutores de veículos, camelôs, pedestres em trânsito pelas cidades, moradores nas proximidades das fábricas e das periferias onde não há saneamento básico.
Os ricos, ao contrário, encontram-se mais protegidos quanto aos efeitos da poluição ambiental. Moram em condomínios fechados; não andam a pé pelos centros das cidades e podem evitar lugares contaminados. Para eles, não importa se os pobres morrem intoxicados. O que importa é que o aumento progressivo de seus lucros esteja garantido. Os ricos não se incomodam com o macro efeito da degradação ambiental, como o aquecimento da terra e dos oceanos e as intempéries delas decorrentes.
Antônio de Paiva Moura é docente aposentado do curso de bacharelado em História do Centro Universitário de Belo Horizonte (Unibh) e mestre em história pela PUC-RS. Antônio de Paiva Moura. Edição: Elis Almeida