Até os 45 minutos do segundo tempo das convenções partidárias, eram poucas as pessoas que apostavam que Bacelar manteria a candidatura à prefeitura de Salvador pelo Podemos. O deputado federal que se viu obrigado a se rebatizar para não confundir com o primo também parlamentar é, depois da Major Denice Santiago, o nome que está no páreo bancado pelo governador Rui Costa. Mais do que os demais aliados da base que disputam o Palácio Thomé de Souza. Afinal, Bacelar não estava em alta no bolão de apostas até conversar com Rui.
O Podemos é um partido nanico no plano federal e no plano estadual. No entanto, em Salvador, conseguiu, desde os tempos de João Henrique, criar uma rede de apoios que tem garantido cadeiras na Câmara de Vereadores. Foram seis vagas em 2012, antes do rompimento com ACM Neto, e três cadeiras quatro anos depois. Mais do que siglas tradicionais, a exemplo do MDB e PSDB. É resultado da micropolítica criada a partir do controle no contato entre a máquina municipal e a comunidade. Tanto deu certo que o antigo PTN nunca deixou de ser um objeto de cobiça – e de conversas no âmbito da Câmara.
Bacelar é um cara que sabe submergir quando assuntos delicados ganham holofotes. Foi assim com a Fundação Pierre Bourdieu, que gestou a primeira crise no governo de ACM Neto, e com o controle do Detran, já na base aliada de Rui. Em ambos os casos, ao menor sinal de fumaça, o deputado federal tentou sair de cena. Não chega a ser um teflon, porém, até aqui, funcionou bem como estratégia política. E, por mais que tenha saído da base da prefeitura atirando, nunca foi um ferrenho adversário da gestão municipal. Vide o comportamento da oposição na atual legislatura, que não aceitou quando Sidininho, do Podemos, assumiu o posto, também por causa do “corpo mole” nos embates contra ACM Neto.
Outro fator a ser considerado é que, de todos os candidatos da base de Rui, Bacelar é o único que não tende a ser atacado por Bruno Reis, caso o postulante do DEM se veja acuado. Foi como assessor do parlamentar que o atual vice-prefeito nasceu para a política e foi apresentado a ACM Neto. Nesse meio, além de lealdade, gratidão não é algo que pode ser colocado à prova facilmente. E eventualmente um telhado de vidro em comum não é algo a ser desprezado.
Junto à possibilidade de abocanhar certos nacos que deram origem política a Bruno Reis, a candidatura de Bacelar é um dos investimentos de Rui para render um segundo turno. É ele o candidato da base do governo cujos votos mais se assemelham à centro-direita – não conservadora – em que hoje se posiciona a coligação de Bruno Reis. O governador mexeu os pauzinhos para manter a candidatura do Podemos. Entre todas é a aposta mais baixa, mas a com mais risco de bons dividendos no curto prazo.
Este texto integra o comentário desta terça-feira (22) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para a rádio A Tarde