“Quando a fumaça se dispersa, a Amazônia pode respirar novamente”. É com esta frase que se inicia a reportagem do jornal americano The New York Times publicada nesta quinta-feira, 5, sobre a situação da floresta após quase um ano de governo do brasileiro Jair Bolsonaro.
“Por meses, nuvens negras pairavam sobre a floresta, enquanto trabalhadores a incendiavam e a desmatavam”, continua o texto. “Agora, a época de chuvas chegou, dando à selva uma trégua e oferecendo ao mundo a visão dos danos”.
Os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram o tamanho do estrago: neste ano, o desmatamento na Amazônia chegou a 9.762 quilômetros quadrados, um aumento de 29% em relação ao mesmo período do ano passado e o maior em 10 anos. A área devastada equivale ao tamanho do Líbano, menciona o jornal.
Antes de divulgados os dados do Prodes, sistema do Inpe que realiza um relatório anual com os índices de desmatamento no período), Bolsonaro atacara os indicadores do Deter, outro sistema que divulga em tempo real o desmatamento, e demitira Ricardo Galvão, diretor do instituto à época. Após constatado o aumento de 29% no desmatamento, o presidente não deu o braço a torcer. “Você não vai acabar com desmatamento nem com queimadas, é cultural”, afirmou.
“Bolsonaro, que sempre argumentou que políticas de conservação impossibilitam o desenvolvimento econômico, vêm desdenhando das medidas ambientais que reduziram o desmatamento da Amazônia entre 2004 e 2012”, continua o jornal. “Seu governo enfraqueceu a fiscalização de leis ambientais ao cortar o orçamento, os funcionários em agências federais e reduziu o esforço em combater as madeireiras, o garimpo e a pecuária ilegal”.
O Times, contudo, diz que o desmatamento começou antes de Bolsonaro assumir a Presidência. O jornal cita a crise econômica de 2014, que forçou muitas pessoas a buscarem os recursos na floresta, além de uma onda de seca entre os meses de julho e agosto, que transformou o solo em atrativo para a exploração ilegal, seja por fazendeiros, madeireiros ou garimpeiros.
Os 80.000 focos de incêndio, segundo dados do governo brasileiro, chamaram a atenção internacional e culminaram em uma crise diplomática, principalmente com a França. O presidente francês, Emmanuel Macron, disse que Bolsonaro era mentiroso e ameaçou o acordo comercial entre União Europeia e Mercosul. O brasileiro rebateu com insultos à primeira-dama da França.
Além da imagem deteriorada do Brasil no exterior, o desmatamento é algo que pode implicar danos à economia brasileira. O Times entrevistou o ex-ministro da Agricultura Blairo Maggi, bilionário brasileiro conhecido por ser o “Rei da Soja” e principal exportador de grãos do país, que disse que “os agricultores, associações e a indústria terão de refazer o que foi perdido”, disse. “Recuamos 10 etapas e teremos de trabalhar para voltar para onde estávamos”.
O desmatamento desenfreado não somente dá golpes na imagem do Brasil no exterior e ameaça a economia brasileira, mas impõe risco à toda humanidade, diz o Times. A Floresta Amazônica é responsável por armazenar milhões de toneladas de dióxido de carbono. O fogo libera todo esse conteúdo tóxico na atmosfera, e o desmatamento diminui a capacidade de retenção desses elementos tóxicos, contribuindo para a mudança climática.
Segundo uma análise feita pelo Centro de Pesquisas Woods Hole e pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), só neste ano as queimadas liberaram de 115 até 155 milhões de toneladas de dióxido de carbono na atmosfera. Cientistas também alertam que, se a floresta sofrer perda de 25% de sua área, a Amazônia chegará a um ponto sem volta e se transformará em uma savana. A estimativa é de já ter perdido 17%, afirma o jornal americano.