Por que a terra anda tremendo no nordeste do Brasil?

Tremores na Bahia e Pernambuco despertam a atenção, mas movimentos são registrados há mais de 100 anos

Centenas de tremores de terra foram registrados no Brasil somente no último mês. A informação pode parecer estranha, levando-se em consideração o fato de que pouco se falou sobre todos esses fenômenos. Mas é fato que eles ocorrem com mais frequência do que se imagina. O país está no interior da placa tectônica sul-americana e, assim como outras nações em condições geográficas semelhantes, está sujeito a terremotos. Há, inclusive, relatos históricos sobre ocorrências de séculos atrás.Como explica o professor Adérson Nascimento, coordenador do Observatório Sismológico da Universidade Federal do Rio Grande do Norte:

 As pessoas afirmam isso, tem até música dizendo que no Brasil não tem terremoto. Mas isso é uma percepção que a gente tem e que não condiz com a realidade. É um fenômeno que já é observado e conhecido desde o tempo do império

 

Recentemente, tremores no recôncavo baiano e no mar de Pernambuco ganharam as manchetes. No primeiro caso, um terremoto de 4,6 graus na escala de magnitude atingiu algumas regiões da Bahia no final de agosto. Moradores da cidade de Mutuípe, relataram o fenômeno, que não teve vítimas, mas causou rachaduras e derrubou prateleiras em comércios da região.

Já nesta semana foram registrados terremotos de escalas 6.9 e 5.7 no Oceano Atlântico, próximo ao arquipélago de São Pedro e São Paulo, região que fica a cerca de 800 quilômetros de Fernando de Noronha. Novos tremores nos próximos dias não estão descartados. Mas a Rede Sismográfica Brasileira já informou que eles não trazem riscos, por exemplo, de causarem tsunamis.

Esses não forma os únicos fenômenos registrados recentemente, no entanto. Na cidade de Canhoba, em Sergipe, foram identificados mais de 120 tremores somente desde 11 de setembro. Em Caruaru, Pernambuco, já são mais de 130 terremotos desde agosto. No sábado (19), a terra tremeu em Chaval, cidade cearense que fica a 400 quilômetros da capital Fortaleza. 


Os tremores recentes se devem a “grandes e antigas falhas geológicas” e que continuarão acontecendo, segundo geólogo. / Pixabay

O professor  de geologia, Marcus Vinicius Almeida Junior, da Universidade Federal do Recôncavo Baiano, detalha como acontecem os fenômenos. “O contexto geológico da região permite que tenha tremores naquela área. Existem falha geológicas que permitem isso. Como se fossem rupturas que existem nas rochas”, explica ele.

“No momento em que ocorrer essas rupturas, há uma liberação de energia, que se propaga a partir de ondas. A partir do momento em que a gente tem blocos de rochas falhados, eles podem se mexer no interior da Terra, por conta da dinâmica do nosso planeta.” completa o professor. Ele vai além, ressalta que é falsa a percepção de que países que estão em centros de placas tectônicas, como é o caso do Brasil, não correm riscos de terremotos.

 Isso é um mito. Esses grande blocos de rocha, por conta da própria evolução geológica do planeta, se chocam e vão formando blocos cada vez maiores. Só que dessa movimentação há a existência de zonas de falha. Esses grandes blocos, mesmo estáveis, apresentam zonas de ruptura, que podem se movimentar buscando acomodação de terreno.

 

É consenso entre estudiosos que hoje o Brasil tem mais condições tecnológicas e mais investimento em pesquisa para monitorar os abalos sísmicos. O professor Adérson  Nascimento afirma, “A detecção da sismicidade é muito mais facilitada pelo fato de gente ter uma rede de monitoramento muito mais forte e adequada para o tamanho do Brasil. Ainda não é a ideal, mas é mais adequada do que o que a gente tinha há 10, 15 anos atrás.” 

Antes dessa melhorias, os relatos ficavam muito por conta das iniciativas dos pesquisadores e da própria população, relatos jornalísticos e até diários mantidos por padres.

“Essa compilação de terremotos, principalmente no nordeste existe desde o começo do século vinte. John Branner, (pesquisador dos EUA) tem um artigo de mais de 100 anos em que já dizia que a sismicidade no brasil era concentrada no recôncavo baiano, Ceará, borda da baia potiguar e agreste pernambucano. Ele já sabia disso e falava que as causas para esses terremotos eram falhas geológicas.”

Não há nenhum estudo que indique que esses fenômenos estão acontecendo em maior escala no Brasil. Mas o professor Adérson ressalta que a falta de planejamento e o crescimento desordenado das cidades e estruturas aumentam o perigo. “Existe uma diferença entre ameaça e o risco. Como a gente se expõe ao risco?” questiona.

 A ameaça ao longo dos séculos é basicamente a mesma. Mas com a população crescendo, verticalização das cidades, quantidade de barragens, e infraestruturas de grande porte, o que acontece é que a gente está mais exposto à ameaça e, portanto, o risco é maior. Tem a ver com condições de moradia, infraestrutura, variáveis sociais e econômicas. O risco de um terremoto causar uma grande repercussão é aumentado. A ameaça, a gente não pode fazer nada contra ela, é uma coisa da natureza, o que agente pode gerenciar é o nosso risco.

 

Clique aqui para acompanhar os registros de terremotos da Rede Sismográfica Brasileira.

 

 

Edição: Rodrigo Durão Coelho