Em carta assinada pelos representantes dos estados que integram o Consórcio Nordeste, os governadores rechaçaram as invasões a hospitais, estimuladas pelo presidente Jair Bolsonaro, e afirmaram que não é “perseguindo gestores que o Brasil vencerá a pandemia”.
“No último episódio, que choca a todos, o presidente da República usa as redes sociais para incentivar as pessoas a invadirem hospitais, indo de encontro a todos os protocolos médicos, desrespeitando profissionais e colocando a vida das pessoas em risco, principalmente aquelas que estão internadas nessas unidades de saúde. O presidente Bolsonaro segue, assim, o mesmo método inconsequente que o levou a incentivar aglomerações por todo o país, contrariando as orientações científicas, bem como a estimular agressões contra jornalistas e veículos de comunicação, violando a liberdade de imprensa garantida na Constituição”, diz o documento.
Os signatários da carta pontuaram ainda que, desde o início da pandemia, têm buscado atuação coordenada com o governo federal, mas afirmaram que o presidente Jair Bolsonaro “adotou o negacionismo como prática permanente, e tem insistido em não reconhecer a grave crise sanitária enfrentada pelo Brasil, mesmo diante dos trágicos números registrados, que colocam o país como o segundo do mundo, com mais de 800 mil casos”.
Os governadores nordestinos criticaram ainda o que consideraram uma “inusitada e preocupante situação”. “Após ameaças políticas reiteradas e estranhos anúncios prévios de que haveria operações policiais, intensificaram-se as ações espetaculares, inclusive nas casas de governadores, sem haver sequer a prévia oitiva dos investigados e a requisição de documentos. É como se houvesse uma absurda presunção de que todos os processos de compra neste período de pandemia fossem fraudados, e governadores de tudo saberiam, inclusive quanto a produtos que estão em outros países, gerando uma inexistente responsabilidade penal objetiva”, apontaram, os gestores estaduais, em referência às operações da Polícia Federal, que alcançaram estados como Rio de Janeiro e Pará.
“Tais operações produzem duas consequências imediatas. A primeira, uma retração nas equipes técnicas, que param todos os processos, o que pode complicar ainda mais o imprescindível combate à pandemia. O segundo, a condenação antecipada de gestores, punidos com espetáculos na porta de suas casas e das sedes dos governos”, avaliam os governadores, destacando que todas as operações devem ser feitas, “porém com respeito à legalidade e ao bom senso”. “Por exemplo, como ignorar que a chamada ‘lei da oferta e da procura’ levou a elevação de preços no mundo inteiro quanto a insumos de saúde?”, questionaram os governadores, que também se colocaram à disposição para submeter os processos administrativos “para análise de qualquer órgão isento, no âmbito do Poder Judiciário e dos Tribunais de Contas” e disseram repudiar “abusos e instrumentalização política de investigações”.